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quinta-feira, 21 de outubro de 2010

A Visão Indígena Brasileira


O que é índio? Um índio não chama nem a si mesmo de índio esse nome veio trazido pelos colonizadores no séc. XVI. O índio mais antigo desta terra hoje chamada Brasil se autodenomina Tupy, que significa "Tu" (som) e "py" (pé), ou seja, o som-de-pé, de modo que o índio é uma qualidade de espírito posta em uma harmonia de forma.
Qual a origem dos índios? Conforme o mito Tupy-Guarani, o Criador, cujo coração é o Sol, /tataravô desse Sol que vemos, soprou seu cachimbo sagrado e da fumaça desse cachimbo se fez a Mãe Terra. Chamou sete anciães e disse: ‘Gostaria que criassem ali uma humanidade’. Os anciães navegaram em uma canoa que era como cobra de fogo pelo céu; e a cobra-canoa levou-os até a Terra. Logo eles criaram o primeiro ser humano e disseram: ‘Você é o guardião da roça’. Estava criado o homem. O primeiro homem desceu do céu através do arco-íris em que os anciães se transformaram. Seu nome era Nanderuvuçu, o nosso Pai Antepassado, o que viria a ser o Sol. E logo os anciães fizeram surgir da Águas do Grande Rio Nanderykei-cy, a nossa Mãe Antepassada. Depois eles geraram a humanidade, um se transformou no Sol, e a outra, na Lua. São nossos tataravós.
Esta história revela o jeito do povo indígena de contar a sua origem, a origem do mundo, do cosmos, e também mostra como funciona o pensamento nativo. Os antropólogos chamam de mito, e algumas dessas histórias são denominadas de lendas.

A Carta do Cacique Seattle, em 1855


Cacique Seattle
Em 1855, o cacique Seattle, da tribo Suquamish, do Estado de Washington, enviou esta carta ao presidente dos Estados Unidos (Francis Pierce), depois de o Governo haver dado a entender que pretendia comprar o território ocupado por aqueles índios. Faz mais de um século e meio. Mas o desabafo do cacique tem uma incrível atualidade. A carta:

    "O grande chefe de Washington mandou dizer que quer comprar a nossa terra. O grande chefe assegurou-nos também da sua amizade e benevolência. Isto é gentil de sua parte, pois sabemos que ele não necessita da nossa amizade. Nós vamos pensar na sua oferta, pois sabemos que se não o fizermos, o homem branco virá com armas e tomará a nossa terra. O grande chefe de Washington pode acreditar no que o chefe Seattle diz com a mesma certeza com que nossos irmãos brancos podem confiar na mudança das estações do ano. Minha palavra é como as estrelas, elas não empalidecem.
Como pode-se comprar ou vender o céu, o calor da terra? Tal idéia é estranha. Nós não somos donos da pureza do ar ou do brilho da água. Como pode então comprá-los de nós? Decidimos apenas sobre as coisas do nosso tempo. Toda esta terra é sagrada para o meu povo. Cada folha reluzente, todas as praias de areia, cada véu de neblina nas florestas escuras, cada clareira e todos os insetos a zumbir são sagrados nas tradições e na crença do meu povo.
    Sabemos que o homem branco não compreende o nosso modo de viver. Para ele um torrão de terra é igual ao outro. Porque ele é um estranho, que vem de noite e rouba da terra tudo quanto necessita. A terra não é sua irmã, nem sua amiga, e depois de exaurí-la ele vai embora. Deixa para trás o túmulo de seu pai sem remorsos. Rouba a terra de seus filhos, nada respeita. Esquece os antepassados e os direitos dos filhos. Sua ganância empobrece a terra e deixa atrás de si os desertos. Suas cidades são um tormento para os olhos do homem vermelho, mas talvez seja assim por ser o homem vermelho um selvagem que nada compreende.
Não se pode encontrar paz nas cidades do homem branco. Nem lugar onde se possa ouvir o desabrochar da folhagem na primavera ou o zunir das asas dos insetos. Talvez por ser um selvagem que nada entende, o barulho das cidades é terrível para os meus ouvidos. E que espécie de vida é aquela em que o homem não pode ouvir a voz do corvo noturno ou a conversa dos sapos no brejo à noite? Um índio prefere o suave sussurro do vento sobre o espelho d'água e o próprio cheiro do vento, purificado pela chuva do meio-dia e com aroma de pinho. O ar é precioso para o homem vermelho, porque todos os seres vivos respiram o mesmo ar, animais, árvores, homens. Não parece que o homem branco se importe com o ar que respira. Como um moribundo, ele é insensível ao mau cheiro.
Se eu me decidir a aceitar, imporei uma condição: o homem branco deve tratar os animais como se fossem seus irmãos. Sou um selvagem e não compreendo que possa ser de outra forma. Vi milhares de bisões apodrecendo nas pradarias abandonados pelo homem branco que os abatia a tiros disparados do trem. Sou um selvagem e não compreendo como um fumegante cavalo de ferro possa ser mais valioso que um bisão, que nós, peles vermelhas matamos apenas para sustentar a nossa própria vida. O que é o homem sem os animais? Se todos os animais acabassem os homens morreriam de solidão espiritual, porque tudo quanto acontece aos animais pode também afetar os homens. Tudo quanto fere a terra, fere também os filhos da terra.
    Os nossos filhos viram os pais humilhados na derrota. Os nossos guerreiros sucumbem sob o peso da vergonha. E depois da derrota passam o tempo em ócio e envenenam seu corpo com alimentos adocicados e bebidas ardentes. Não tem grande importância onde passaremos os nossos últimos dias. Eles não são muitos. Mais algumas horas ou até mesmo alguns invernos e nenhum dos filhos das grandes tribos que viveram nestas terras ou que tem vagueado em pequenos bandos pelos bosques, sobrará para chorar, sobre os túmulos, um povo que um dia foi tão poderoso e cheio de confiança como o nosso.
De uma coisa sabemos, que o homem branco talvez venha a um dia descobrir: o nosso Deus é o mesmo Deus. Julga, talvez, que pode ser dono Dele da mesma maneira como deseja possuir a nossa terra. Mas não pode. Ele é Deus de todos. E quer bem da mesma maneira ao homem vermelho como ao branco. A terra é amada por Ele. Causar dano à terra é demonstrar desprezo pelo Criador. O homem branco também vai desaparecer, talvez mais depressa do que as outras raças. Continua sujando a sua própria cama e há de morrer, uma noite, sufocado nos seus próprios dejetos. Depois de abatido o último bisão e domados todos os cavalos selvagens, quando as matas misteriosas federem à gente, quando as colinas escarpadas se encherem de fios que falam, onde ficarão então os sertões? Terão acabado. E as águias? Terão ido embora. Restará dar adeus à andorinha da torre e à caça; o fim da vida e o começo pela luta pela sobrevivência.
    Talvez compreendêssemos com que sonha o homem branco se soubéssemos quais as esperanças transmite a seus filhos nas longas noites de inverno, quais visões do futuro oferecem para que possam ser formados os desejos do dia de amanhã. Mas nós somos selvagens. Os sonhos do homem branco são ocultos para nós. E por serem ocultos temos que escolher o nosso próprio caminho. Se consentirmos na venda é para garantir as reservas que nos prometeste. Lá talvez possamos viver os nossos últimos dias como desejamos. Depois que o último homem vermelho tiver partido e a sua lembrança não passar da sombra de uma nuvem a pairar acima das pradarias, a alma do meu povo continuará a viver nestas florestas e praias, porque nós as amamos como um recém-nascido ama o bater do coração de sua mãe. Se te vendermos a nossa terra, ama-a como nós a amávamos. Protege-a como nós a protegíamos. Nunca esqueça como era a terra quando dela tomou posse. E com toda a sua força, o seu poder, e todo o seu coração, conserva-a para os seus filhos, e ama-a como Deus nos ama a todos. Uma coisa sabemos: o nosso Deus é o mesmo Deus. Esta terra é querida por Ele. Nem mesmo o homem branco pode evitar o nosso destino comum."

Sobre a Educação Indígena no Brasil

Caros colegas, a Educação Indígena no Brasil está sendo desenvolvida e consolidada com base nos princípios estabelecidos no estudo que fizemos sobre o bilinguismo. São informações sobre o assunto:

Quando os portugueses chegaram ao Brasil, em 1500, os historiadores estimam que aqui houvesse uma população de 6 milhões de índios falando mais de 1300 línguas. Dados mais recentes informam sobre a existência de 218 povos indígenas falando 180 línguas e dialetos nativos conhecidos. Já foram menos e hoje se estima que representam pelo menos 1% da população brasileira.
A Constituição Brasileira de 1988, em vigor, avançou na garantia de direitos dos indígenas em relação às terras que ocupam e de manutenção de suas identidades diferenciadas, preservando suas línguas, suas culturas, tradições e modos de ser e de pensar. Isto, porém, não significa a inexistência de conflitos de terras indígenas e de quem questione o respeito e garantia de direitos a estes povos.
A legislação e as políticas públicas para enfrentamento destas questões vêm sendo alteradas de forma significativa. e onde se observam as maiores mudanças é na educação escolar indígena.
Surgiram projetos em diversos pontos do país específicos pra a realidade sociocultural e histórica dos povos indígenas marcados pelos princípios da interculturalidade e bilingüismo proposto no tema analisado neste Seminário. O novo paradigma inspirou o MEC- Ministério de Educação a criar programas específicos a partir de um novo paradigma educacional de respeito à intercuturalidade, ao multilinguismo e à etnicidade.
As ações desenvolvidas foram:
a)   Formar os próprios índios como professores de suas comunidades;
b)   Programas diferenciados para formação de indígenas;
c)   Produção de materiais bilíngues e na língua nacional; adequação de currículos e calendários á realidade de cada povo indígena.
Dados de 2002 demonstravam que naquela época já havia no Brasil 1392 escolas indígenas onde lecionam 3059 professores índios e 939 não – índios atendendo a aproximadamente 93 mil alunos indígenas.
   A educação indígena brasileira fundamenta-se no respeito e no conhecimento da história dos diferentes povos,  propiciando processos de resgate e de valorização dos saberes e das práticas tradicionais destes povos.

Fonte:BRASIL.Ministério da Educação.O Governo Brasileiro e a Educação Escolar Indígena 1995-2002.

O Observatório da Educação Escolar Indígena



Gilvan Müller de Oliveira (IPOL e UFSC)
O que é preciso saber para alfabetizar uma criança? Que métodos de bilinguismo realmente estão sendo usados nas escolas indígenas? Que concepções de sociedade orientam os programas de ensino médio indígenas atualmente existentes? Quais os perfis docentes em cada etnia? As escolas indígenas estão a serviço de projetos de sociedade de acordo com as decisões de cada povo?
Essas e tantas outras perguntas são essenciais para a capacitação dos professores das três mil escolas indígenas do Brasil. A Capes (Coordenação de Aperfeiçoamento do Pessoal do Ensino Superior), órgão do MEC que tradicionalmente se preocupava com a formação dos professores universitários, como seu próprio nome diz, está sofrendo uma reformulação para cuidar também de aspectos da formação dos professores dos níveis fundamental e médio.
(...)
Um dos projetos que nascem nesta nova Capes, chamada carinhosamente de “Capes do B”, é o Observatório da Educação Escolar Indígena, estratégia de financiamento que possibilitará que grupos de várias pós-graduações de universidades públicas brasileiras interatuem com professores e alunos das escolas indígenas e que os resultados possam ajudar a pensar sobre a formação dos docentes e sobre como implantar melhorias no ensino.
Como diz o sítio da Capes,
o Observatório da Educação Escolar Indígena pretende promover e implementar a formação inicial e continuada de professores, preferencialmente indígenas, a inserção e a contribuição destes profissionais nos projetos de pesquisa em educação e a produção e a disseminação de conhecimentos que priorizem atividades centradas como: cursos, oficinas, produção conjunta de material didático, para-didático e objetos de aprendizagem nos formatos impresso e digital. (BRASIL, 2010).
As pesquisas do Observatório usarão informações do Censo Escolar Indígena, valorizando, assim, uma base de dados que não está suficientemente utilizada e que fornece uma visão importante do que acontece nas muitas escolas indígenas do País. Esses dados estão no Inep (Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira), também do MEC, responsável pelo Censo.
A estratégia do Observatório, finalmente, permite que os novos Territórios Etnoeducacionais Indígenas, criados pelo governo federal, contem com elementos de planejamento para a atuação das diversas entidades em cada território (ver artigo anterior sobre esse tema).
Vemos, assim, a tentativa de integração operacional entre os diversos setores: os que pesquisam, os que planejam, os que ensinam, os que aprendem… Dá-se, assim, um) passo muito importante para responder às tantas perguntas que temos nas escolas e para criar uma educação à altura da dignidade dos povos indígenas.
Referência
BRASIL. Ministério da Educação. Observatório da Educação Escolar Indígena. 3 ago. 2009. Disponível em: Acesso em: mar. 2010.
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Profa Cristina e alunas/os do curso de Formação de Docentes do Núcleo de Dois Vizinhos - Paraná